Câncer Gástrico Difuso Hereditário (CGDH) - Diagnóstico, Vigilância e Tratamento

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Câncer Hereditário e Síndromes de Predisposição Genética ao Câncer

16 maio

Câncer Gástrico Difuso Hereditário (CGDH) - Diagnóstico, Vigilância e Tratamento

Câncer Gástrico Difuso Hereditário (CGDH) é uma condição genética rara associada a mutações no gene CDH1. Embora o câncer gástrico seja comum no Brasil, pouco se discute sobre suas formas hereditárias. O CGDH é caracterizado por um padrão de infiltração difusa no estômago e um alto risco de desenvolvimento de câncer gástrico em idade precoce, com implicações importantes para a vigilância e o tratamento. 

Características Principais do CGDH

  • Padrão de Herança:
    Síndrome autossômica dominante, com mutações no gene CDH1. Alguns portadores da mutação podem não desenvolver câncer gástrico, mas ainda podem transmiti-la aos descendentes.
  • Risco de Desenvolvimento:
    • Alta incidência de câncer gástrico antes dos 40 anos, com casos registrados a partir dos 14 anos
  • Risco acumulado aos 80 anos:
      • Homens: 67% 
      • Mulheres: 83% 
  • Cânceres Associados:
    • Câncer de mama lobular: Risco de até 39% em mulheres. 
    • Câncer colorretal: Evidências recentes apontam maior risco associado.
  • Aspectos Patológicos:
    • Adenocarcinoma pouco diferenciado, com padrão de infiltração difusa e espessamento da parede gástrica (linite plástica).

Critérios Clínicos Atualizados

O CGDH deve ser considerado em famílias com os seguintes padrões:

  1. Dois ou mais casos de câncer gástrico difuso em parentes de 1º ou 2º grau, com pelo menos um diagnosticado antes dos 50 anos.
  2. Três ou mais casos de câncer gástrico difuso em parentes de 1º ou 2º grau, independente da idade.

Nota: O câncer de mama lobular pode ser incluído nesses critérios, dependendo do contexto familiar.

Testes Genéticos e Novos Avanços

  • Diagnóstico Genético:
    Os testes para mutações no gene CDH1 têm alta sensibilidade (95%) e identificam mutações em cerca de 30% dos casos suspeitos.
  • Outras Mutações:
    Estudos recentes indicam que o gene CTNNA1 também pode estar relacionado ao CGDH, reforçando a necessidade de análises genéticas mais amplas.
  • Indicação do Teste:
    • Deve ser oferecido primeiro a indivíduos afetados antes de ser estendido aos familiares sob risco. 
    • É essencial excluir outras síndromes hereditárias relacionadas ao câncer gástrico.

Vigilância para Indivíduos Sob Risco

  • Métodos de Investigação:
    • Endoscopia digestiva alta com biópsias de áreas suspeitas. 
    • Cromoendoscopia: Uso de corantes para melhorar a detecção. 
    • Ultrassonografia endoscópica: Avaliação de infiltração e espessamento da parede gástrica.
  • Limitações:
    Mesmo com vigilância rigorosa, algumas lesões mínimas podem não ser detectadas pelos métodos disponíveis, aumentando o risco de diagnóstico tardio.

Gastrectomia Total Profilática

  • Indicação:
    • Recomendado para portadores confirmados da mutação no gene CDH1, considerando a idade e o risco cumulativo de câncer. 
  • Achados Cirúrgicos:
    Em pacientes sem lesões detectadas por endoscopia, a gastrectomia frequentemente revela infiltrações malignas microscópicas (células em anel de sinete).
  • Riscos e Considerações:
    • A cirurgia elimina o risco de câncer gástrico, mas não protege contra outros tumores associados (câncer de mama lobular e colorretal). 
    • Vigilância contínua para esses outros tipos de câncer é obrigatória.

Para Pacientes Não Operados

  • Recomendações:
    • Endoscopia digestiva alta com biópsias a cada 6 a 12 meses
    • Vigilância regular para câncer de mama e colorretal.

Conclusão

O CGDH é uma condição genética grave que requer um manejo cuidadoso e multidisciplinar. Decisões sobre vigilância e cirurgia profilática devem ser personalizadas, considerando os riscos, benefícios e as características de cada paciente. Se houver histórico de câncer gástrico difuso na família, consulte um especialista para avaliação genética e orientação.